O uso excessivo de aparelhos eletrônicos, em especial o celular, tem sido objeto de reclamação recorrente dos pais de adolescentes. Em casos extremos, o usuário não consegue viver sem o equipamento. Quando fica longe do aparelho, o jovem ou a garota sente sintomas físicos e psíquicos pela falta do objeto.
Esse tipo de comportamento é descrito pelos pais com filhos em acompanhamento no Adolescentro- programa de atenção a saúde do adolescente. De acordo com relato dos pais, eles não sabem como agir diante da situação. Mesmo não havendo um grupo de trabalho específico sobre o tema, a dependência tecnológica está presente na maioria dos atendimentos.
O Adolescentro acolhe, diariamente, pelo menos dez novos adolescentes, com idade entre 12 e 18 anos incompletos. Eles são encaminhados por escolas, por médicos das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e ainda há os que chegam por demanda espontânea.
A assistente social, Ana Miriam, afirma, em uma entrevista a Agência Brasília, que não há uma medida de tempo ideal para evitar a dependência tecnológica. Segundo ela, tudo depende da preservação das funcionalidades, ou seja, o uso de eletrônicos não deve afetar o rendimento nos estudos, o sono ou o convívio social.
A assistente também alerta para os prejuízos que uma abordagem agressiva e radical por parte dos pais pode trazer. “A orientação é diminuir as horas, fazer uma redução de danos, e não, simplesmente, tirar tudo. A gente trabalha muito com o controle parental, no sentido de poder regular, regular o sono, regular o horário”, sugere.
Os profissionais do Adolescentro influenciam em mudanças de comportamentos de toda a família, a partir dos atendimentos individuais e das ações em grupo. Foi com recebendo essas orientações que Sérgio conseguiu demonstrar mais o seu afeto pelo filho adolescente.
Em 18 de junho de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o distúrbio de jogo no Código Internacional de Doenças (CID). Com isso, a OMS passou a considerar como doença a dependência digital e a nomofobia, que é o medo irracional de estar sem celular ou aparelho eletrônico no geral.
São doenças relativamente recentes, que surgiram em função das mudanças e dos avanços tecnológicos na sociedade. Um levantamento aponta que 176 milhões de pessoas no mundo são viciadas em tecnologia. A dependência está relacionada ao vício em outras tecnologias, como computadores e videogames. Ou seja, quanto maior a dependência digital, maior a fobia.
Em casos extremos, a dependência digital pode ser comparada a ao uso de uma droga que, quando o usuário se vê sem ela, pode apresentar sintomas como taquicardia, sudorese, irritabilidade, impaciência, pânico.
O vício também atinge os mais velhos
Quando se fala em vício em tecnologia, como uso compulsivo de smartphones e redes sociais, é natural pensar sempre em crianças e adolescentes, público normalmente mais adepto dessas novas tecnologias. Contudo, esse problema pode atingir os mais velhos da mesma maneira que pega os jovens é o que aponta um novo estudo desenvolvido pelo Pew Research Center, dos Estados Unidos.
O estudo revela que 36% dos pais e 54% dos filhos afirmam passar muito tempo usando o smartphone. O ato de conferir as notificações do celular assim que acorda é mantido por 72% dos filhos e 57% dos pais.
Quando o tema é a perda de foco nas atividades causadas pelas redes sociais e pelo celular, os dois grupos também têm resultados expressivos: 31% dos jovens e 39% dos mais velhos garantem sofrer com isso.
A pesquisa também mostra que 51% dos filhos e 72% dos pais sentem que uma pessoa não está prestando a atenção na outra durante uma conversa pessoal.
ADOLESCENTRO – A unidade funciona das 8h às 12h e das 14h às 17h, na quadra 605, lotes 32/33, na Asa Sul.