Moradores descobriram irregularidades após cobrança suspeita de taxa extra. Dinheiro foi usado para despesas pessoais, construção de esmalteria e até compra de globo de festas
Um escândalo de desvio de dinheiro em um condomínio residencial de Águas Claras, no Distrito Federal, veio à tona nas últimas semanas, resultando na prisão preventiva da ex-síndica do Residencial Monte Carlo, localizado na Rua 22 Sul. Segundo as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ela teria desviado mais de R$ 1 milhão ao longo de sua gestão, que durou mais de uma década.
A descoberta começou em fevereiro deste ano, quando a então síndica propôs uma taxa extra de R$ 40 mil para a instalação de uma portaria eletrônica. O pedido soou estranho aos moradores, já que o condomínio possuía fundo de reserva e havia um planejamento em andamento para uma reforma de fachada orçada em R$ 1 milhão.
Ao investigarem as prestações de contas de 2024, os conselheiros encontraram indícios de fraudes e manipulação dos documentos fiscais. Uma diarista, por exemplo, foi usada como “laranja” em recibos falsificados para justificar serviços nunca prestados. O nome dela aparecia em notas referentes a consertos e limpezas, mas ela nunca havia trabalhado para o condomínio — e teve sua conta bancária usada para receber pagamentos.
Outros gastos registrados como “oficiais” incluíam consultas médicas, serviços de tatuagem, compras em lojas de roupas, além da construção de uma esmalteria na Ceilândia, ao lado da vidraçaria do pai da ex-síndica, um dos maiores fornecedores do condomínio. Há ainda registro de despesas com férias em Porto Seguro, computadores de última geração, cafés em excesso, globo de festas e até milhares de copos plásticos por mês.
A ex-síndica, que também é professora da rede pública, foi alvo de mandado de busca e apreensão no dia 2 de abril. Ela foi presa na última quarta-feira (16), após decisão judicial que acatou o pedido de prisão preventiva feito pela PCDF. Atualmente, encontra-se no Centro de Passagem da corporação, aguardando transferência para o Presídio Feminino do DF, a Colmeia.
Enquanto o escândalo se desenrolava, o prédio acumulava problemas estruturais: extintores vencidos, piscina e sauna inutilizadas há mais de dois anos, dívida de R$ 90 mil em impostos federais e o caixa completamente zerado. Diante disso, a nova gestão montou uma força-tarefa com 13 moradores voluntários, que tentam reerguer o condomínio e responsabilizar judicialmente a antiga administradora.
A ex-síndica nega as acusações, mas afirma que está disposta a devolver valores caso fique comprovado algum prejuízo. O processo segue em sigilo, mas fontes ligadas à investigação afirmam que o que foi descoberto até agora é apenas a “ponta do iceberg”.